A data de 11 de abril foi escolhida como Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson. O Parkinson atinge cerca de 9 milhões de pessoas em todo o mundo. É a segunda doença neurológica mais frequente, atrás apenas do AVC. No Brasil, a projeção de envelhecimento da população pode fazer com que se torne mais frequente.
Aos 30 anos, a cientista aposentada Danielle Lanzer começou a sentir uma vibração na mão esquerda logo após uma cirurgia de apendicite. “Não era visível, mas me atrapalhava em meu trabalho no laboratório”. Hoje, aos 46 anos, Daniela tem o diagnóstico de Parkinson, uma doença neurológica degenerativa que afeta cerca de 2% da população mundial. Só no Brasil, são cerca de 500 mil pessoas que convivem com a doença.
O caminho para identificar o Parkinson foi longo: foram seis anos de muitos exames e diagnósticos equivocados. “Tive diagnóstico de tremor essencial, depressão e até suspeita de doença de Wilson”, conta Danielle. Quando encontrou um neurologista especialista em distúrbio do movimento, ele detectou que era Parkinson. “Mas já estava tomada por sintomas. Eu tinha muitas dificuldades até para o autocuidado: não conseguia lavar meu cabelo sozinha, não conseguia escovar o dente, dependendo do tipo de roupa, não conseguia me vestir. Precisava de ajuda para cortar carne. Coisas básicas, às vezes, eu não conseguia fazer. Isso foi me causando depressão”, relata.
Casos como o de Danielle, que começou a desenvolver sintomas aos 30 anos, são raros. O mais frequente é que o Parkinson comece a se manifestar após os 60 anos. “É uma doença que está relacionada ao envelhecimento cerebral”, pontua a neurologista Roberta Saba, coordenadora do departamento científico de transtornos do movimento da Academia Brasileira de Neurologia.
A especialista esclarece que não há uma razão específica para o desenvolvimento do Parkinson: “Há uma conjunção de fatores genéticos e ambientais que podem fazer com que o indivíduo desenvolva ou não doença de Parkinson.” O parkinson se desenvolve por deficiência na produção de dopamina, que é um neurotransmissor que conduz correntes nervosas pelo corpo.
A moradora de Itapaci (GO) Celita Machado acredita que o fator genético influenciou no desenvolvimento da doença. Há cinco anos, aos 64 anos, começou a apresentar tremores nas mãos mais evidentes, associados a esquecimento e dores na garganta. A musculatura da garganta já está mais enrijecida e, por isso, faz acompanhamento com fonoaudiólogo e também pratica exercícios físicos. “O dia em que faço pilates me sinto muito melhor”, diz a aposentada.
Muito mais do que tremores
O tremor do Parkinson não é aquele acarretado por algum movimento, ele aparece também quando a pessoa está em repouso. “Nem todo mundo que treme tem a doença e nem todo paciente com doença de Parkinson treme”, explica a neurologista.
No caso de Danielle Lanzer, não há presença de tremores, mas uma lentidão no movimento, um sintoma presente em todo paciente com Parkinson. Pode haver alterações na voz, a pessoa muda a escrita, há alterações tanto na parte motora, como na forma de caminhar. Além disso, podem haver alterações no sono e depressão. “Os sintomas começam muito sutis e vão evoluindo lentamente. Com isso, as pessoas vão se acostumando àquelas alterações e, às vezes, só após um, dois anos é que eles eles percebem que tem alguma coisa errada e vão buscar ajuda médica”, diz o neurologista André Sobierajki. membro da Academia Brasileira de Neurologia.
Sintomas de Parkinson
- – Tremores
- – Rigidez
- – Movimentos lentificados
- – Dores no corpo
- – Alterações na marcha (forma de caminhar)
- – Alterações no sono (sono agitado, conversar durante o sono, ter movimentos bruscos)
- – Tonturas
- – Depressão
- – Dificuldade para sentir cheiros
- – Perda de memória
Tratamento
O Parkinson é uma doença que não tem cura. “Na verdade, eu falo para os meus pacientes que eles não vão morrer de Parkinson. Ele vai morrer com o Parkinson”, diz Dr. Sobierajki. Isso porque o Parkinson não causa a morte, mas a progressão dos sintomas e o enfraquecimento muscular podem acarretar quedas, pneumonia. “É preciso prestar atenção porque é uma doença neurodegenerativa e deve ter um tratamento individualizado”, complementa Dra. Roberta Saba.
Há medicações específicas para tratar especificamente o Parkinson como Alevodota e o Prolopa (levodopa + benserazida). Mas o paciente que sofre com a doença, normalmente, faz uso de medicações associadas para tratar os sintomas, como ansiolíticos e remédios para dores. O tratamento é multidisciplinar, além do neurologista é comum a presença de fonoaudiólogo, fisioterapeuta e psicólogos.
“É uma doença que exige tempo e muito investimento”, relata Danielle. Ademar Vasconcellos tem 72 anos e foi diagnosticado com Parkinson em 2018. Além do plano de saúde, costuma gastar cerca de R$ 2 mil mensais entre medicamentos, estimulação magnética craniana e honorários médicos. “Como a doença é degenerativa torna-se uma luta. Enquanto o medicamento fizer efeito”, diz Vasconcellos.
Danielle conta que aprendeu a conviver com a doença e que há dias melhores e outros com mais dor. Hoje, além das terapias, também pratica canto. “Gera muito prazer e, quando você tem sensação de prazer, um pouco das células que estão na região do sistema nervoso acabam produzindo dopamina. Então, isso me ajuda bastante e melhora a minha voz e dicção”, comenta.
No início dos sintomas, Danielle teve muita dificuldade com a vida social. “Você se sente inferior por não ter mais as mesmas habilidades e condições de fazer as atividades em casa, no trabalho”. Hoje, já adaptada, ela é uma das responsáveis pelo movimento “Vibrar com Parkinson’. Por meio do movimento, eles conseguiram derrubar uma normativa de 2017 que retirava os benefícios de redução do valor do medicamento para o tratamento da doença para pessoas com menos de 50 anos.
Fonte: Brasil 61